sábado, 24 de outubro de 2015

"Esoterismo na pintura de Helena Canotilho" pelo Professor Doutor António A. Pinelo Tiza


Esoterismo na pintura de Helena Canotilho

Retratar linearmente o real não deve ser arte. Será por isso que Helena Canotilho nos retrata os elementos do universo de uma forma tão elaborada, complexa. Ao fazê-los interagir na tela, de uma forma tão sábia, confere a cada obra um carácter simbólico cuja leitura exige uma atenção redobrada para a sua compreensão. Isto porque os elementos formam conjuntos coerentes para que transmitam uma ideia, um sentimento, um ritual.Deteta-se na obra um trabalho criterioso, orientado pela sabedoria alcançada em resultado do desbaste da pedra bruta, pela força interior do entendimento que tudo vence e pela beleza da harmonia dos elementos nela conjugados.
Cada obra carrega em si um sentido para a existência da artista, através da simbologia esotérica; tal desiderato só foi possível, a meu ver, pela imersão na profundidade da essência intrínseca dessesobjetos, quer seja a de cada um per si, quer pela interação que entre eles faz ela estabelecer. Estamos, pois, a tratar da dimensão transcendental – a teleologia da arte.
Helena Canotilho logrou alcançar a simbologia plena por um trabalho criterioso de seleção e pela expressão harmoniosa dos elementos nos seus diversificados conjuntos, sendo que cada um deles está vinculado a uma vivência sua, em particular. Contudo, nunca perde de vista a ortodoxia que a inspirou, simplesmente porque nela o dogmatismo não tem lugar. Assim, a obra torna-se um convite à descoberta de outros símbolos que, por sua vez, nos conduzem ao conhecimento da complexidade do ser humano e do universo a que pertence.
Se nos fixarmos no conjunto da obra, talvez possamos ver nela espelhado um rito: cada tela apresenta um conjunto de símbolos que se repetem e se conjugam e todas as telas interagem para a teleologia do conhecimento de si mesmo, da harmonia com o outro e da perfeição interior.
O olho que tudo vê do delta luminoso é (quase) o único elemento humano deste conjunto de obras de arte. Aliás, é um ícone recorrente. Contudo, todos eles (incluindo este) representam os caracteres mais elevados e sublimes da condição humana; verbi gratia, a vida, a paz, a solidariedade, a renovação permanente e a fecundidade expressas nos grãos unidos da romã; as ferramentas dos pilares da construção humana (compasso, esquadro, pêndulo…), segundo os seus valores e direitos primordiais: a ética e a moral, a justiça, a retidão, a fraternidade; a complementaridade e o equilíbrio do triângulo.
Acima de tudo, Helena Canotilho construiu a obra de arte esotérica da pessoa humana: bela, boa, justa e perfeita.

Professor Doutor António A. Pinelo Tiza
Historiador e crítico de arte

Presidente da Academia Ibérica da Máscara

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