Esoterismo na pintura
de Helena Canotilho
Retratar linearmente o real não deve
ser arte. Será por isso que Helena Canotilho nos retrata os elementos do
universo de uma forma tão elaborada, complexa. Ao fazê-los interagir na tela,
de uma forma tão sábia, confere a cada obra um carácter simbólico cuja leitura
exige uma atenção redobrada para a sua compreensão. Isto porque os elementos
formam conjuntos coerentes para que transmitam uma ideia, um sentimento, um
ritual.Deteta-se na obra um trabalho criterioso, orientado pela sabedoria
alcançada em resultado do desbaste da pedra bruta, pela força interior do
entendimento que tudo vence e pela beleza da harmonia dos elementos nela
conjugados.
Cada obra carrega em si um sentido
para a existência da artista, através da simbologia esotérica; tal desiderato
só foi possível, a meu ver, pela imersão na profundidade da essência intrínseca
dessesobjetos, quer seja a de cada um per
si, quer pela interação que entre eles faz ela estabelecer. Estamos, pois,
a tratar da dimensão transcendental – a teleologia da arte.
Helena Canotilho logrou alcançar a
simbologia plena por um trabalho criterioso de seleção e pela expressão
harmoniosa dos elementos nos seus diversificados conjuntos, sendo que cada um
deles está vinculado a uma vivência sua, em particular. Contudo, nunca perde de
vista a ortodoxia que a inspirou, simplesmente porque nela o dogmatismo não tem
lugar. Assim, a obra torna-se um convite à descoberta de outros símbolos que,
por sua vez, nos conduzem ao conhecimento da complexidade do ser humano e do
universo a que pertence.
Se nos fixarmos no conjunto da obra,
talvez possamos ver nela espelhado um rito: cada tela apresenta um conjunto de
símbolos que se repetem e se conjugam e todas as telas interagem para a
teleologia do conhecimento de si mesmo, da harmonia com o outro e da perfeição
interior.
O olho que tudo vê do delta luminoso
é (quase) o único elemento humano deste conjunto de obras de arte. Aliás, é um
ícone recorrente. Contudo, todos eles (incluindo este) representam os
caracteres mais elevados e sublimes da condição humana; verbi gratia, a vida, a paz, a solidariedade, a renovação
permanente e a fecundidade expressas nos grãos unidos da romã; as ferramentas
dos pilares da construção humana (compasso, esquadro, pêndulo…), segundo os
seus valores e direitos primordiais: a ética e a moral, a justiça, a retidão, a
fraternidade; a complementaridade e o equilíbrio do triângulo.
Acima de tudo, Helena Canotilho
construiu a obra de arte esotérica da pessoa humana: bela, boa, justa e
perfeita.
Historiador e crítico de arte
Presidente da Academia Ibérica da
Máscara
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